Fomos conhecer a Sociedade de Instrução e Beneficência
"A Voz do Operário",
numa visita guiada, da programação Visitas Comentadas de Lisboa Cultural.
A fundação da Sociedade de Instrução e
Beneficência A Voz do Operário foi pelos finais do século
XIX. A causa que deu origem à fundação foi, em grande parte, um contexto
histórico. O movimento operário em ascensão, marcado pela luta contra a
monarquia, os republicanos e socialistas obtêm um apoio significativo das
classes trabalhadoras cujos ideais encontram eco junto destas, assim como as
mobilizam para a transformação e a mudança.
Atualmente dedica-se a atividades culturais e associativas
estendendo-se às mais diversas áreas, a educação, o desporto, a música, o
cinema, passando pelos debates, exposições, ação social em vários níveis e uma Marcha Infantil e a participação em diversas iniciativas
destacando-se as comemorações do 25 de Abril e 1.º de maio.
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| Lisboa - A Voz do Operário |
Em
outubro de 1912, com a presença do próprio Presidente da República, Manuel de Arriaga, foi lançada a primeira
pedra de construção da sede atual de A Voz do Operário (sita na Rua Voz do
Operário, à Graça, em Lisboa), tendo as obras ficado concluídas em 1932. Nesta
altura, a Sociedade tinha cerca de 70 mil sócios e era já o mais importante
núcleo de instrução primária da cidade de Lisboa, com escolas a funcionarem
também na periferia. Em 1938, as escolas de A Voz do Operário eram frequentadas
por 4.200 alunos, na grande maioria filhos de operários.
Durante
a Primeira República, A Voz do Operário conheceu um desenvolvimento ímpar. A
vertente educacional passou a ocupar um lugar de destaque entre as suas
atividades, enquanto prosseguia a publicação do jornal e a ação mutualista que
se estendeu também ao apoio aos mais desfavorecidos, nomeadamente no
fornecimento de refeições. Inaugurou-se na sede um balneário público para
servir a população da zona e incrementaram-se os cursos de formação
profissional, em particular, para as filhas dos trabalhadores, com os cursos de
costura a registarem uma elevada frequência. Manteve-se a assistência funerária
e inaugurou-se a biblioteca. É o período áureo da Sociedade que contava com
inúmeros beneméritos entre os seus associados e viu o seu património aumentar
fruto de muitos legados, quer imóveis quer móveis.
É
precisamente a vertente educacional, bem como, a ligação à Instituição de
eminentes figuras da cultura portuguesa que lhe permite sobreviver durante a
ditadura do Estado Novo. Fundada pelos operários da indústria tabaqueira e
assumindo-se desde sempre como organização de classe, A Voz do Operário viveu,
no período da ditadura fascista, grandes dificuldades com a censura a amputar o
jornal daquilo que o distinguia dos demais, as atividades culturais e serem
cerceadas e a própria educação a ser sujeita às imposições do Estado Novo,
esforçando-se mesmo assim por contribuir para a formação integral dos seus
alunos.
Nem
por isso, no entanto, a Instituição deixou de prosseguir os seus desígnios,
embora muitas das dificuldades só tenham conseguido ser ultrapassadas com o 25
de Abril de 1974. Então, A Voz do Operário como que renasceu e o seu método
pedagógico, o do Movimento da Escola Moderna, impôs-se no panorama do ensino
nacional. Método que ainda hoje é seguido e que alia à aprendizagem das
competências e saberes, a formação para a cidadania ativa, democrática e
solidária.
Com a Revolução dos Cravos, a cultura voltou a preencher os espaços da sede, através de espetáculos musicais, cinema, teatro, exposições de artes plásticas e dança. Incrementou-se a prática desportiva e alargou-se a ação social aos idosos, com a inauguração de um centro de convívio e, mais tarde, com o apoio domiciliário a idosos e acamados. Surgiram as creches e os jardins-de-infância como forma de apoio às famílias, manteve-se a publicação regular - agora mensal - do jornal, repuseram-se os livros proibidos (e apreendidos pela polícia política) nas estantes da biblioteca, estendeu-se o ensino do 1.º ao 2.º ciclo, criou-se a Galeria João Hogan e, em 1987, a Marcha Infantil de A Voz do Operário. Fonte: "A Voz do Operário"

Lisboa - A Voz do Operário


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